segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Minhas impressões do livro: O general estava nu.

Ambientado no período sombrio da ditadura militar, a obra da escritora Flávia Hartmann, causa um impacto incrível na vida de seus leitores. Diversos episódios tensos, nos quais os requintes de crueldade causam uma aflição que perdura, mesmo após fechar o livro e retomar a rotina da vida, torna essa história envolvente. Entretanto, a leveza na escrita se mostrou uma característica marcante da autora, sem descrições longas e enfadonhas, mas com riqueza de detalhes que levam a imaginação para longe. 

Infelizmente a bestialidade humana narrada não se limita a ficção apresentada. Hoje sabe-se que os meios de tortura demonstrados na obra, eram amplamente aplicados naqueles que discordavam do regime ditatorial imposto. Difícil não se emocionar e se envolver a cada página. 

O personagem principal, um general do exército. Homem que demonstra ser desprovido de qualquer humanidade, que causa asco a cada aparição, até mesmo na menção de sua pessoa. Comportando-se como se sua vontade fosse soberana, pouco importando-se com aqueles que tinha como alvo, ou aqueles a quem eram próximos. 

Por mais que a vida dos diversos personagens se cruzem com essa figura horrenda, à parte, ocorrem histórias extremamente ricas em encontros e desencontros; de realização de sonhos; diversidade e, sobretudo, de humanidade. Deixando clara a capacidade de cada indivíduo reescrever sua história, mesmo que as adversidades apresentadas sejam intensas e traumáticas. Sendo, portando, uma leitura indispensável aos amantes da boa escrita, repleta de fluidez e emoção. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Minhas impressões do livro: O pródigo e o cisne

O livro ‘o pródigo e o cisne’, de H. Martins, não pode ser facilmente definido em algumas palavras, por isso instiga o leitor a criar um juízo de valor acerca de cada personagem dessa narrativa surpreendente. Contudo, a história tem Tadeu como personagem principal, talvez por sua complexa maneira de viver. 

Uma estranha convergência em família, torna as diversas micro memórias trazidas em cada página, como um rio que desagua em lugar comum. Por mais complexa que seja a situação vivida pelo personagem principal, o seio familiar parece sempre se destacar de maneira positiva ou não.

Talvez essa seja a chave de uma boa história, a diversidade. Uma mãe zelosa, uma filha distante, casos de traição, a estranha relação com o dinheiro, além de algumas surpresas ao final da obra. Nada pior que a monotonia para matar um apanhado de páginas, mas isso definitivamente não ocorre com esse livro.

Ao debruçar-se sobre essa criação de H. Martins, é incontestável o sentimento misto que aflora afim de dar destinações distintas para a história. Para alguns o desfecho pode parecer perfeito, já para outros pode parecer faltoso em algo (fim piegas ou extraordinário). No entanto, o final parece ser a medida certa de surpresa com pitadas generosas de ironia.

 

terça-feira, 23 de março de 2021

Minhas impressões do livro: Embrulhe para Presente.

Identificar-se com uma história, automaticamente, nos prende a ela. Isso possivelmente ocorre pela singularidade de cada ser humano ao encarar as mais diversas situações ordinárias/ extraordinárias da vida. A intensidade de sentimentos em cada indivíduo é muito variável, pois a caminhada chamada de vida, constrói uma personalidade única.

Nessa toada, cada conto aglutinado em Embrulhe para Presente, impacta e identifica de maneira diversa cada leitor. Portanto, é notório o sentir, tão bem apresentado pelo escritor Renato Muniz B. Carvalho.

Cabe destacar a formosura da simplicidade na capa da obra, que evidencia o bom gosto no que diz respeito a artes desse tipo. Tal fato pode ser interpretado como uma analogia das histórias elencadas, já que a vida pode ser vista como uma rosa, com suas belezas e espinhos.

A mensagem que leva a uma reflexão pode ser encarada como o verdadeiro presente do autor, haja vista que ela ocorre constantemente a cada passar de página. Nesse sentido, a editora Penalux nos presenteia mais uma vez com um livro de qualidade ímpar, iluminando momentos de cada indivíduo que se rende as suas incontáveis obras incríveis. 


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Minhas impressões do livro: O caderno de Benjamim.

Quando temos pressa para chegar a um determinado destino, não nos atentamos aos detalhes do trajeto. Nem sempre o caminho mais curto será o mais belo, mas isso acaba não importando quando o objetivo não é admirar. Entretanto, ao refletirmos sobre a vida, percebemos que permanecemos mais no caminho do que no destino, por isso é tão importante aproveitarmos o percurso.

O Caderno de Benjamim, obra linda de Edmir Carvalho Bezerra, nos entrega sentido e sentimento a cada página. Em um gênero que não se amarra a formalidades banais, uma espécie de “proesia”, onde uma história se mescla as poesias que dão extrema profundidade a uma bela narrativa.

Ao nos colocarmos no lugar do solitário senhor Ishiguro, que recebe as visitas do jovem Benjamim, com o qual compartilha suas experiências de vida, sentimos dor e amor ao mesmo tempo, algo que só é possível com essa estrutura brilhantemente criada pelo autor. Em uma pequena aldeia, o imigrante oriental não deixa suas raízes, por mais que o grande interior da Amazônia possa parecer engolir os que a adentram.

Diante desse contexto, a abstração tão comum e inerente a muitos textos poéticos, cai por terra, dando um norte para as estrofes que seguem. Por isso, a leitura desse livro é tão prazerosa, pois sentimos que o percurso da vida pode ser transformado em arte, ao invés de ser apenas mais um compilado de palavras desconexas.

“Um livro de poesia que não é poesia”. É assim que ele é descrito em seu bojo, contudo, pode ser visto como uma obra de arte que reflete a vida de forma poética. E assim, a editora Penalux consegue, com maestria, trazer ao mercado algo diferente e de qualidade excepcional.

 


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Minhas impressões do livro: Roda-Gigante.

Já consumiu uma sopa extremamente quente? Incialmente se pode até queimar a língua, pois a alta temperatura impede a degustação do alimento de forma imediata. Mas se, aos poucos, com a devida paciência, de sopro em sopro esperar mornar, o verdadeiro sabor aparecerá. Assim se faz a leitura de um livro de poesia, sem pressa, buscando sentir o sabor do autoconhecimento.

A poesia está além da mera conjunção de palavras, ela é o extrato da mente do poeta. Não há como desfrutar de uma obra como “Roda-Gigante”, sem refletir a cada linha, a cada estrofe. O poeta Rique Ferrári, mostra a essência da vida a cada inspiração externada em linhas.

O título tem uma ligação direta com o conteúdo deste belo livro, uma analogia que nos leva a uma introspecção muito profunda logo de início. Já na ilustração de capa têm alguns homens em uma roda-gigante, nas mais diferentes idades e alturas do grande brinquedo. Com isso, abriu em mim um questionamento sobre as mais diversas fases, de altos e baixos, que enfrentamos no decorrer de nossa caminhada pela estrada da vida.

Interessante e muito importante salientar os títulos dos capítulos principais, que são: “Linha de Partida”, “Linha de chegada” e “Oroboros”. O olhar artístico de Ferrári sobre o ciclo da vida fica evidente, pois a linha de partida pode ser representada pelo início da busca pelos nossos sonhos e objetivos, já a linha de chegada seria a conquista dessas metas, mas quando falamos de oroboros, vem à tona a imagem insaciável do ser humano que sempre está em busca de algo.

Neste livro, uma linguagem acessível e tocante são marcas do autor, destacando uma preocupação em tocar corações com a sua mais bela expressão de arte, não em jogar páginas fora com erudições vazias e egocêntricas. E como dito inicialmente, uma obra para ser lida como se come uma sopa quente, aos poucos. 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Minhas impressões do livro: Desarranjo.

A sinceridade levada ao extremo pode ser considerada grosseria, mas é a mais pura essência do ser humano. Lê-la é uma experiência de autoanálise muito interessante, pois acabamos percebendo o quanto vamos nos emoldurando às convenções sociais que nos são impostas diariamente.

“Desarranjo”, livro de Marco Aurélio de Souza, não é uma obra para os fracos de espírito, é uma torrente de excrementos jogados no ventilador a cada linha.

Esta autobiografia ficcional é narrada por um personagem que vive diariamente frustrado com as intempéries da vida, decorrentes de suas frustrações e introspecções críticas constantes.

Essas indagações do seu próprio comportamento e dos que estão à sua volta, são tratadas de maneira muito peculiar, sem papas na língua, sem clichês de um romance literário típico, e isso, torna “Desarranjo” tão interessante.  

Além do nome do livro fazer alusão aos dejetos excretados pelo ser humano, a capa do livro mostra um rolo de papel higiênico em seu fim. Tal simbolismo, nem sempre é analogia à “merda”, mas literalidade.

Entretanto, as fortes mensagens desta narrativa, são sobre as coisas que deixamos de falar por educação, ou preguiça de se indispor; dos relacionamentos frustrantes pelos quais passamos no decorrer da vida; nas escolhas profissionais que, nem sempre, correspondem aos anseios de realização e lucratividade; entre tantas outras “merdas” que nos acontecem, além das que deixamos de externar quando confrontados ou frustrados.

Por fim, interessante analisar que os recortes realísticos trazidos à tona nessa história, mostram o quanto o ser humano passa por mudanças de pensamento, podendo ser considerado até contraditório, incoerente e hipócrita. Mas o que seria de nós sem o lado ruim/ inverso da vida? Sem isso nunca saberíamos o que realmente pode ser bom.

Mais uma vez a Editora Penalux acerta em uma publicação, pois ela se mostra extremamente original e envolvente, com o capricho e zelo na formatação/ diagramação que lhe é de praxe.

 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Minhas impressões do livro: O plano

 

Nem tudo é o que parece. Por mais que essa afirmação pareça óbvia, enganar-se é um fato corriqueiro inerente a condição falha do ser humano. Por isso, uma leitura extremamente libertadora é aquela que desperta um poder de reflexão, que de forma impactante pode ser constatado ao ler “O Plano”, livro incrível da escritora Agda Theisen.

O intuito dessa resenha não é a de trazer um compilado de spoilers sobre a obra acima mencionada, mas a de externar a incrível sensação de ler um enredo que cresce assustadoramente durante o desenrolar dos fatos.

Inicialmente é fundamental mencionar a figura de Zeca, um jovem rapaz com muitos conflitos internos, que acabam por refletir em sua vida e felicidade. Contudo, seu caráter ilibado o torna um personagem digno de admiração e identificação. A exemplo disso, o personagem tem uma carreira acadêmica interrompida na medicina, o que aponta uma série de reflexões sobre a pressão que muitos sofrem ao escolher um caminho profissional e a cobrança de se verem felizes nela.

De pronto, ao passar pelas primeiras páginas, o mistério da morte misteriosa de um homem nos faz ficar imersos em uma teia de pensamentos em busca de uma resolução plausível. No entanto, ao descobrirmos, percebemos o quão terrível pode ser a mente maquiavélica do homem, capaz de comercializar órgãos humanos (pobres e crianças) em prol de benefício monetário para viabilizar um plano terrível de poder político.

Infelizmente, os acontecimentos terríveis contados não são exclusividade de um enredo criativo, são de fatos que já aconteceram por diversas vezes no decorrer da história da humanidade, como no período que prevaleceram os absurdos do nazismo, bem como nos casos que comumente são veiculados na mídia. Despertando assim, a visão crítica de ideologias políticas que conversem com qualquer tipo de segregação, mostrando que um pequeno discurso pode reverberar de forma significativa no futuro.

Outra reflexão trazida à baila pela obra, é a maneira que podemos enfrentar as grandes barreiras das desigualdades sociais enfrentadas pelo Brasil? Em resposta a esse questionamento, podemos dizer “todas”, menos aquelas apontadas pelo grande vilão dessa trama, haja vista que este defendia a morte e exclusão dos “diferentes” e mais pobres.

A capacidade da autora em criar toda uma organização do esquema criminoso que permeia a trama é digno de muitas homenagens. Somente uma mente dotada de muita criatividade e talento poderia desenvolver um sistema tão elaborado. Além do que, o desfecho não deixa nada a desejar, haja vista as grandes supresas observadas.

E nessa toada de introspecções, a mensagem central da obra que fica marcada no íntimo do leitor, ao meu ver, é a de que devemos optar por fazer a coisa certa sempre, mesmo que ninguém esteja vendo, mesmo que a consequência inicialmente pareça ruim. O Certo é sempre o certo a ser feito.

Digno de uma adaptação para cinema ou série de televisão, “O Plano” é um livro de grande qualidade, que tem a característica dos bons livros: a de prender o indivíduo do início ao fim. Portanto, mais uma vez, a Editora Penalux sai na frente com mais essa publicação de peso em seu acervo. 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Minhas impressões do livro: Esta lã de sal

A poesia é a expressão do conteúdo mais profundo da alma humana. Isso é um fato, vez que só podemos oferecer ao outro aquilo que temos. No caso desse gênero literário tão intenso em sentimentos que é a poesia, fica evidente o anseio do poeta em entregar com intensidade sua mais autêntica expressão de arte.

O mais belo de uma obra de arte é que ela poder ser vista de diversas formas, seja em uma pintura abstrata em um museu, em um belo vaso pintado à mão, ou em um livro de poesias de cunho cristão. Arte é expressão. Com isso, o livro de Luiz Guilherme Libório Alves da Silva, intitulado de ‘Esta Lã de Sal’, externaliza com muito talento suas crenças e sentimentos.

Interessante frisar o estilo de escrita do autor, já que este inicialmente cita primeiramente um versículo bíblico que é utilizado para a analogia das estrofes que seguem logo abaixo. Seu domínio gramatical é impecável, despertando admiração dos amantes da língua portuguesa.

Um ponto que não poderia ser deixado de lado, tendo em vista sua beleza ímpar, é a capa do livro. Permeada de um sentimento dramático de perda, vê-se uma ovelha que parece lamentar a morte de seu jovem filhote, com corvos rodeando essa fatídica cena. Esta capa é, sem dúvida, digna de emolduração nos mais distintos ambientes.

Por fim, acredito que muitos concordem que a beleza se encontra na simplicidade. Em poucas palavras, os versos de ‘Veremos, Verão’, acabam por evidenciar tal constatação e levar o leitor a profundas introspecções. Cito:

“Chove e é verão.

Vejo o romper dos raios pela janela

Luzindo seus ramos de trigo na noite.

Minha pequena

Missão é esta:

Ser poeta”.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Minhas impressões do livro: Marcados pela luta

Quanta dor a alma de um ser humano é capaz de suportar? A necessidade diária de se levantar e, mesmo sem vontade, ter que prosseguir, é chamada por muitos de resiliência. Contudo, nomenclaturas são tão irrelevantes quando a necessidade e a dor imposta pela vida não deixam outra alternativa a não ser seguir, não se sabe se em frente, mas seguir o duro caminho que é viver.

Uma obra extremamente tocante, dolorosa e realista, assim defino em poucas palavras o magnífico livro “Marcados pela Luta”, de Marcos Zanon. Que consegue sintetizar com maestria a nobre arte de transformar em palavras o espetáculo da vida humana. Sensível ao ponto de não dar uma personalidade clichê a um personagem, construindo no decorrer dos capítulos a justificativa dos moldes do caráter cada um.

Se emocionar a cada página é inevitável, trazendo reflexões profundas sobre os fatos que nos levam a ser quem somos. Inicialmente, vemos a figura de um avô rígido com seu neto, mas o homem cansado por uma vida carregada de muito trabalho e sofrimento, apenas queria evitar o mesmo destino para o pequeno neto. Quando é narrada a dura infância desse senhor em uma miserável vida de abusos, fome e privações, repensamos suas atitudes e começamos a nos colocar em seu lugar. Talvez seja isso que falte nos dias atuais, mais empatia pelo próximo.

Algo que mexe com a estabilidade emocional do leitor são as perdas de entes queridos, seja pela morte, seja em vida. No primeiro caso, a dor causada pelo falecimento é acentuada quando pais lamentam, quase em gemidos, a partida daquele filho que tanto desgosto lhes deu. A companheira de tantos anos que repentinamente deixa esse mundo. Aquele avô companheiro, e que no último dia de vida, lhe dá um abraço como se soubesse de sua hora.

No que tange a perda em vida, pode se vislumbrar o processo de amadurecimento que todo ser humano passa na adolescência, onde se está disposto a loucuras por um amor, que muita das vezes, só existe no mundo platônico das ideias. Outro caso de perda em vida, é a valorização de quem tudo fez pelo outro, mas que só foi percebido quando já era tarde demais. Portanto, reflexões profundas se edificam a frente daqueles que se debruçam sobre essa obra tão ímpar.

E por fim, algumas lições podem ser extraídas dessa história, como: o ser humano tem um limite que deve ser respeitado, mesmo com a vida sendo marcada por tantas adversidades; e de que cada pessoa carrega consigo uma trajetória que deve ser levada em consideração, como base de uma sociedade plural em pensamentos e opiniões.


terça-feira, 21 de julho de 2020

Minhas impressões do livro: Histórias do velho

A infância é uma época que nos lembramos com muito carinho, pois as histórias que ouvimos nesse período tinham um sabor muito diferente. Acredito que seja pela pureza do coração que recebe todo tipo de informação sem questionar, permitindo uma melhor fluidez na absorção de cada evento. Essa amarração inicial é necessária, visto que a obra que será ilustrada logo mais adiante, se trata de uma série de contos magníficos, contados por um "velho". Sim, um "velho" contador de histórias, que encanta as crianças ao seu redor com relatos das mais incríveis experiências que jura ter vivido. 

O que torna esse livro tão envolvente é a maneira que a narrativa nos é apresentada, fugindo do modo convencional em que um compilado de contos são aglutinados em um livro. Em 'Histórias do Velho', temos a figura desse senhor misterioso que consegue conquistar o interesse dos jovens por suas incríveis e inacreditáveis histórias. Interessante observar a reação dos infantes após ouvirem o relato do senhor, bem como a expectativa deles sobre o próximo, fazendo com que esse livro de contos se torne uma única história, mesmo com episódios tão diferentes a cada capítulo.

Em um conto incrível acontece algo muito interessante conosco. Nos indagamos se acontecimentos sobrenaturais afligiram cruelmente uma mulher, ou se tudo não seria fruto da sua mente perturbada pela esquizofrenia. Fato é que, o terror junto aos requintes de crueldade, tornam essa parte assustadora, independentemente da fonte, seja mental ou espiritual. Com isso, o leitor se prende ao texto, percorrendo os olhos pelas páginas, em busca de algum detalhe que fundamente uma linha de raciocínio criada no decorrer dos fatos. 

Indispensável mencionar a capacidade que Müller Barone, autor do livro, tem na construção de seus personagens. Como é o caso da história das Gárgulas, em que toda uma fundamentação histórica foi criada para impactar o leitor no momento de seu desfecho. Fundamental apontar a linda mensagem que fica subentendida, sobre quem nos tornamos quando guardamos tantas coisas ruins vindas de outrem. Tal maneira de escrever reforça que boas histórias não precisam ser necessariamente prolixas.

Portanto, é muito prudente ter essa linda obra por perto, seja em uma viagem, na cama antes de dormir, em uma rede ao relaxar, ou em qualquer outro lugar destinado a leitura. Esse livro tem a capacidade de nos transportar para longe, mesmo em um momento de mobilidade restrita. Mais uma vez a editora Penalux conseguiu publicar uma preciosidade literária, o que já é sua especialidade.

domingo, 12 de julho de 2020

Minhas impressões do livro: A mulher que proclamou a república

É fato que a vida é feita de diversos desafios diários, dos quais não podemos fugir. Com isso, a labuta diária se torna um fardo a ser aliviado, do contrário, o monstro do estresse e da monotonia absorve nossa sensibilidade de perceber as pequenas coisas que nos dão felicidade e paz. E foi na literatura que, muita das vezes, encontrei aconchego para a alma. O que ocorre com maestria no livro que será descrito mais adiante.

Devo render minhas mais sinceras homenagens ao notável Aguinaldo Tadeu, autor de um dos romances mais belos, intrigantes e construtivos que já li. A obra chamada de ‘A Mulher que Proclamou a República’, mescla uma vida fictícia do Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, com fatos históricos extremamente relevantes do nosso país.

A história acontece sob o olhar do serviçal Alcides, empregado de Deodoro, que outrora servira a família real. Inicialmente, essa figura parece ser apenas um ponto de vista interessante dos fatos que se desenrolam, mas a posteriori se torna peça fundamental para um dos maiores eventos, se não o maior, que marcaria uma mudança profunda na trajetória de nossa nação.

Marechal Deodoro da Fonseca, lembrado como a figura militar que destituiu Dom Pedro II do trono, vai muito além nessa obra. Sendo um homem muito vaidoso, sensível com as mulheres, que declama poesias de Olavo Bilac em alta voz, além de um excelente dançarino, consegue desconstruir a figura sisuda tão difundida.

Todos esses belos adjetivos citados acima, somados a uma avassaladora paixão que conseguiu deixar o homem que enfrentou guerras, totalmente rendido aos seus sentimentos. Foi o que aconteceu com o comprometido marechal assim que encontrou Adelaide, uma baronesa encantadora, viúva, inteligente e muito impetuosa. Que arrebatou seu coração e razão.

Refletindo sobre a mensagem transmitida, cheguei à conclusão de que polarização do sim ou não, do oito ou oitenta, do bom e do mau, etc., não se sustenta. A essência da vida e da história vai muito além, pois a realidade é feita de erros e acertos, não seguindo uma linearidade. E essa mensagem Tadeu soube passar como ninguém.

Outro ponto que torna a qualidade do enredo impecável, é o fato de que as histórias se ligam de maneira muito harmoniosa e eletrizante. Seja na figura de Alcides, traficando informações na época em que servia ao imperador, fato preponderante para a queda do monarca;  seja no suposto envolvimento da baronesa com o político Silveira Martins, que virou algoz de Deodoro, tanto que levou o marechal a proclamar a República para impedir que tal homem fosse nomeado a Chefe de Governo do império.

Para além da fabulosa trama, há de ser enaltecido todo o trabalho realizado ao final de cada capítulo, que conta com notas reais e históricas que enriquecem demais a obra. Observa-se então, uma maneira de ensinar muito rica, pois a forma lúdica somada aos textos fáticos, tornam o aprendizado muito mais interessante e saboroso de ser digerido.

Quem se envereda nessa leitura, consegue vislumbrar uma República feita às pressas, bem como os vários motivos “peculiares” de sua proclamação. Em contraponto, uma monarquia consolidada, feita de figuras historicamente relevantes na evolução do Brasil como uma nação, faz desse livro uma importante ferramenta de construção de um olhar crítico, tendo em vista o material utilizado, como aponta as fontes bibliográficas.

Por fim, a editora Penalux se supera mais uma vez na qualidade literária, enaltecendo personagens nacionais importantíssimos que não podem ser esquecidos jamais. Nesse sentido, vale citar as palavras do saudoso e ilustre Rui Barbosa: “a morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima”.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Minhas impressões do livro: O chão de outra casa


A vida é um acontecimento ímpar experienciado por cada ser neste planeta. Mas quando nos referimos a vida humana, um concatenado de fatores são adicionados a essa singularidade de existência, como: amar, odiar, perder, ganhar, sofrer, sorrir... E isso torna a vida tão interessante de ser observada, inclusive, pelas páginas de um livro.  

‘O Chão de Outra Casa’, escrito por Edgar Costa Neto, mostra um constante entrelace de vidas, seja pelo envolvimento direto ou indireto de pessoas, seja pelo paradoxo criado durante a história, através da narrativa de uma escritora, que tenta externalizar seus sentimentos através de sua obra.

Casamentos desgastados e o surgimento de antigos amores. Traições justificadas pelo tratamento indiferente e monótono de relacionamentos frustrantes. Das coincidências causadas pelo destino. Do passado que reflete o futuro mais do que imaginamos. A guerra de egos feridos. Enfim, uma obra focada no ser comum, mas de enredo fenomenal.

Rodrigo e Renata sustentam um casamento sem tesão, amor, empatia. Pedro, alguém perdido interiormente, talvez em busca de outra pessoa que o cuide como sua mãe, encontra Renata, sua velha amiga com quem acaba tendo um caso. Esta por sua vez, se separa de seu marido para viver essa aventura. Rodrigo, materialista e superficial busca preencher um vazio existencial na boa forma física e no dinheiro. Já o pai de Renata, Moacir, casado com uma mulher doente, em estado vegetativo, vive o dilema de suas necessidades fisiológicas.

Concomitante ao citado acima, um artifício extremamente interessante e inteligente utilizado pelo autor, foi o sistema de transição temporal de um parágrafo a outro. É como se estivéssemos revisitando a memória de alguém. Com isso, a diversidade dos personagens e o tráfego destes em tempos diferentes, fortalece os traços de personalidade, mas desconstrói conceitos que concebemos antes do desfecho.

Mais que um livro, é uma experiência. A cada página que passa é como uma novela que surge em nossa mente, provocando vários questionamentos morais e éticos, mostrando a vida como ela é.

domingo, 3 de maio de 2020

Minhas impressões do livro: Pergamináceo


Desde que comecei a escrever minhas impressões sobre livros, os de poesia são sempre um desafio à parte. Diferente dos demais gêneros literários que nos envolvem em uma história de começo, meio e fim, a poesia nos envolve de uma forma diferente, como um enlace de espírito, provocado pelo sentimento que brota da alma do poeta, através das letras contidas nas páginas.

Essa identificação na semelhança de experiências demonstradas em cada poesia, deve ser o segredo do transe causado por ‘Pergamináceo’. Sim, um transe que nos leva a devorar toda a obra em poucos instantes, já que essa leitura pode ser encarada como uma caminhada de autoconhecimento.

Exemplificando essa caminhada linda de introspecção, alguns títulos desse livro devem ser citados e exaltados, como: “Get Away”, uma poesia da verdade, que nos coloca no lugar real de limitação temporal inerente a vida; “Amor Próprio”, um poema curtinho, mas com tantos significados para quem um dia já se deixou de lado por alguém; “Monumental”, versos quentes que expressam os desejos mais íntimos (de corpo e alma) do ser humano, simplesmente lindo. Enfim, esse poeta escreve o que até então sentíamos e não sabíamos expressar.

O autor, Luis Guilherme Libório, em sua breve biografia na orelha de capa, conseguiu me remeter à infância. Este poeta foi inspirado por uma professora de português logo no ensino fundamental, que o motivou a continuar nessa caminhada literária. Semelhante história ocorreu com esse resenhista. Mostrando a importância da difusão da literatura na infância, como meio de diminuir desigualdades intelectuais e sociais tão latentes em nossa nação.

Nesse contexto, apenas posso ser grato a editora Penalux, por ter publicado uma obra tão bela e expressiva, além de ser grato ao escritor por compartilhar seus sentimentos aos que amam ler e sentir.

domingo, 26 de abril de 2020

Minhas impressões do livro: Penumbrosa


Com a correria do dia a dia, junto as responsabilidades inerentes da vida adulta, fica muito fácil esquecer como é se sentir criança. Maravilhoso é nos sentirmos nostálgicos e alegres ao ler textos que nos remetam à infância. 'Bete Penumbrosa', consegue ser aquele livro infantil que todo adulto deveria ler para se transportar aos bons tempos.

A técnica de escrita utilizada por Cerlos Éldani Davissara, é extremamente envolvente, visto que ele mescla a história de seus personagens com uma narração sua em certos momentos, tornando o conteúdo leve, engraçado e dinâmico.

Bete Penumbrosa é uma menina de dez anos, um tanto diferente das demais crianças de sua idade, já que metade de seu rosto tinha a feição de uma senhora idosa. Seu pai, um homem coberto de muitos pelos, muitos mesmo. Além de ter três tias em uma só, já que elas tinham três cabeças. Enfim, uma família bem inusitada no que diz respeito a aparência. Não há como deixar de mencionar que o clássico filme americano ‘A família Adamms” (1991), vem a memória algumas vezes.

Uma história muito bem construída, sob a perspectiva da jovem garota que foi separada muito cedo de sua mãe. Muito sapeca, Bete se envolve a todo instante em confusões no ambiente escolar, o que deixava seu pai extremamente irado, o qual lhe dava alguns cascudos como forma de punir a jovem.

Em determinado momento, a menina descobre que sua família fora perseguida por um cientista maluco, obcecado por objetos dourados, apaixonado pela mãe de Bete, que se obrigou a fugir quando Bete era mais jovem, para tentar afastar o psicopata.

No entanto, acontecimentos se desenrolam e culminam em uma aventura dentro de sua escola, através de passagens secretas, com direito a monstros e pistas que acabariam no encontro de toda sua família, sequestrada pelo cientista maluco. Foi quando teve que passar por vários testes na tentativa de livrar seu ceio familiar da morte.

Por óbvio, não é prudente revelar as provas que foram impostas para tentar libertar a família Penumbrosa, mas é um fato que o livro em questão mostra ao leitor que é possível ser extremamente criativo na criação de histórias. Cenários, falas, personagens, tudo harmonicamente criado para dar ao enredo um tom de originalidade.

‘Bete Penumbrosa’ é um livro para toda a família, que poderia facilmente virar uma série de desenhos animados para a televisão. A Editora Penalux, mais uma vez, acerta com maestria na escolha de publicação de uma obra tão bonita e divertida.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Minhas impressões do livro: Fera Ferida


Como é bom ler poemas, talvez seja por dois motivos inseparáveis. O primeiro seria que, através dos poemas, enxergamos a “nudez” da alma do poeta, e por conseguinte, esse desprendimento nos causa a sensação de liberdade que buscamos constantemente, nem que seja em nosso subconsciente. Mas estas são apenas impressões, minhas impressões.

Maya Viana, uma autora/ leoa, ruge aos quatro ventos sua brilhante criação intitulada de ‘Fera Ferida’. Digo isso, pois ao iniciar essa leitura, somos tomados pela força de uma escrita genialmente elaborada, com junções perfeitas, capazes de nos transportar até o íntimo de alguém que grita com o desejo de exprimir todos os seus anseios.

Como amante da literatura, dizer que julgo um livro pela capa seria, no mínimo imprudente de minha parte, mas no bom sentido posso dizer que julguei este livro e não me arrependo. A mistura abstrata de laranja intenso com o amarelo em seu revestimento, dá aquela percepção de fogo, brilho, luz, intensidade, o que diz muito sobre o conteúdo. Já seu interior, existem algumas páginas vermelhas com desenhos de uma garra, que pude interpretar como a força e ferocidade na qual a escritora traz à tona sua alma por meio das palavras.

Peço a licença e tomo a liberdade de citar o poema descrito na página 61, pelo simples motivo de ter me colocado em estado de reflexão/ introspecção por longos minutos. Além de ter me emocionado ao perceber a simplicidade e sensibilidade na utilização de analogia, que deu força descomunal a estes versos. Cito:

“Como um animal ferido deveria me recolher
Lamber as feridas e com o piscar de olhos
A cicatriz surgiria o pelo cobriria e eu
Ao nascer do sol sairia em busca de outra cicatriz
Afinal parece-me que é para isso
E somente isso que vivemos
Para lamber as feridas e cobri-las
Com algum pelo que nos cabe”.

Parabenizo a editora Penalux, pela incrível capacidade de publicar livros tão relevantes ao cenário nacional da literatura. Compilados de poemas como este, nos faz ricos, muito ricos, ricos de cultura.

sábado, 7 de março de 2020

Minhas impressões do livro: A ilha de um homem só

Sinto-me completamente encabulado ao expor minhas opiniões sobre esta obra fenomenal, pois a junção harmoniosa das palavras nela contidas, é para mim, uma das mais belas da literatura brasileira, irrepreensível. Guilherme Antunes, autor desse livro que é uma máquina de impactar corações, é acima de tudo, uma alma evoluída, haja vista que só se tem uma percepção apurada sobre as poesias da vida, do cotidiano, pessoas que transcenderam a prisão da rotina e dos pensamentos pré-programados. 

O título 'A Ilha de um Homem só', pode ser compreendido logo de cara, quando nos deparamos com seus enredos poéticos que conversam com nossa alma. Portanto, entendi que a criação de Antunes, representa o nosso próprio eu, onde cada experiência de vida é sentida de forma única e exclusiva, pois não há como delegarmos sentimentos, talvez até tentemos, mas cada um carrega experiências intrínsecas. 


Cunhei um termo para descrever aqueles capítulos que conversam com o nosso íntimo, como capítulos de autoidentificação. O que apenas ratifica e evidencia a oportunidade sensorial única proporcionada nessa leitura. 


Ilustrando toda essa experiência mencionada logo acima, lhes trago parte do texto 'Banal', o qual me conquistou, fazendo esse se tornar meu livro de cabeceira:
"...Colecionei sabedorias, fiz serenata para as solidões, transbordei-me em jeito de rio, chorei riachos, interpretei verdades que não são colhidas em todas as estações. Senti vontades de ser mar. Tornei-me aconchego de praça. Sabe, eu acostumava pensar que somente existir era algo muito banal. Aí, deixei de existir e me tornei poesia".


Contudo, como uma sopa quente, essa leitura deve ser apreciada vagarosamente, já que esses textos nos remetem a episódios pessoais, mostrando-nos realidades, o que enxergo ser primordial, porque conhecer a si mesmo é poder. 


Definitivamente, esse não é um livro que ficará guardado em uma prateleira, poderá ser revisitado de tempos em tempos para o deleite de seus leitores. A editora Penalux, acertou mais uma vez ao inserir essa obra em seu quadro de produtos.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Minhas impressões do livro: O Vendedor de Chuva.


Há quanto tempo que não me sentia tão imerso em uma história? Realmente não me lembro. Por vezes tive que decidir se respirava ou lia, pois no êxtase da narrativa era impossível realizar as duas tarefas.

Em uma mistura perfeita nasceu ‘O Vendedor de Chuva’, de Fred Vidal. Mistura essa composta pela exposição da vida sofrida do povo nordestino, castigado pela seca e escassez de alimentos, com a linguagem poética e única do autor, além de que, este fugiu completamente dos clichês quando no decorrer dos fatos.

Já no primeiro capítulo uma tragédia cai sobre uma família do sertão, pois o lar é despedaçado pela maldade humana, externalizada por capangas que desconhecem conceitos como humanidade ou misericórdia. Aquele seio familiar é desfeito com crueldade, abusos e muito sangue.

Não há tempo para se ter dúvidas quanto a qualidade da obra, não há tempo para colocar em xeque se aquele livro valerá a pena de ser lido ou não, porque a cada linha há um aperto no coração, na busca para se descobrir o desenrolar dos próximos fatos.

No meio de um familicídio, a criança que também era alvo dos assassinos consegue fugir, mas a dor que corrói sua alma o acompanha, a imensa dor de ter visto seus familiares vilipendiados. E essa dor é transmitida com potência pelo escritor, já que uma celeuma de pensamentos aflige aquele que lê, não sendo algo necessariamente ruim, pois mexer com o coração do leitor é obra para poucos no meio da literatura.

O menino cresce e vira um homem, um adulto com sede de vingança, disposto a vender a própria alma para se saciar. E foi o que ele fez. Em acordo com o diabo, teve seu corpo fechado para os revides dos inimigos, partindo então, com orientação das trevas, rumo a satisfação de seu maior desejo.

Os requintes de crueldade nas vinganças, são dignos daqueles filmes de horror, dos mais pesados. Mas é na sua última vingança que entendemos o título do livro, já que para alcançar seu objetivo, fez cessar por anos a chuva em uma pequena cidade nordestina. Imperando ali a seca e completa desolação. Mas como acabar com isso? Comprando a chuva. Quanto custaria? Sangue e mais sangue, sangue inocente.

Difícil explicar como que, harmoniosamente, juntou-se em uma só história a poesia, o horror, a ficção, realidades vividas no interior brasileiro, bem como um enredo de início, meio e fim. Mas o fato é, é possível, e isso pode ser visto em ‘O Vendedor de Chuva’. Muito obrigado Editora Penalux.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Minhas impressões do livro: Só os objetos salvam!


Um dos livros mais difíceis que resenhei até hoje, pois a cada parágrafo, a cada linha, acontecia uma reflexão através das simbologias contidas nele. Prolixo, profundo e realista, são alguns adjetivos que podemos dar ao ‘Só os objetos salvam!’ de Roberto Pio Borges.

Imagine o maravilhoso Rio de Janeiro, mas sem a aglomeração de pessoas, pois no mundo futurista não há mais a morte, devido aos nano robôs que circulam na corrente sanguínea. No entanto, o fato de existir vida eterna trouxe uma consequência, o medo de morrer! Isso mesmo, todos com medo de morrerem afogados, atropelados, ou até mesmo por uma banalidade como um tropeço. Com isso, a humanidade se trancou em suas casas.

A solução para uma vida que passou ser vazia, tendo em vista que a brevidade da vida faz os momentos serem intensos e muita das vezes únicos, foi a criação de uma máquina chamada de “ventre”, onde as pessoas dormiriam nele para sempre, seguros, em um “sonho”, uma espécie de transe eterno, em que os prazeres mais íntimos seriam realizados constantemente. Para que isso fosse possível, a figura dos robôs, altamente inteligentes e semelhantes a ser humano, passariam a ter o papel de cuidadores.

O personagem principal dessa obra é o padre Origo. Homem que já não exercia o ofício religioso há muito tempo, já que as religiões caíram por terra com a possibilidade de ser imortal. Vivendo com sua cuidadora Agnes, sem querer adormecer no sono eterno de um “ventre”, como forma de punição pelos erros do passado que nem se lembrava mais ao certo.

Ocorre que o padre é convocado para uma missão e nesse meio tempo, novos personagens vão aderindo à história. E cada um desses novos atores, transformam esse livro em uma completa viagem filosófica para dentro de nós mesmos.

Questionamentos com o de enfrentar a dura realidade da vida ou de fugir dela através das artificialidades; o quanto somos destrutivos com a natureza e na correria diária deixamos de apreciar a beleza dos ambientes; de que a graça da vida está na brevidade, pois a eternidade poderia ser uma maldição; enfim, poderia descrever várias linhas dos pensamento que me acometeram no decorrer da apreciação desse livro.

Um dos pontos altos que vale a pena destacar, é que em um dado momento, o padre descobre que toda a sua vida é transmitida para pessoas do mundo todo por meio de seus olhos, com a ajuda da tecnologia que circulava em suas veias. Nesse interim, várias situações acontecem para provocar os limites da moralidade humana, da sanidade mental. Interessante e premente se faz reflexões nesse aspecto em tempos de reality shows.

Por fim, uma analogia interessante que se pode fazer desse livro é a clássica história do ‘Mito da Caverna’, de ‘A República’, de Platão. Em que um homem preso durante a vida toda em uma caverna, ao ver o sol e sentir a dor por sair de seu local escuro, da posição que sempre se encontrou, sofreu a segregação de seus companheiros que não tiveram a mesma coragem de sair daquela situação.

Ler Roberto Pio Borges, é um exercício de auto crítica, da maneira que tratamos o mundo, mas também da maneira que nos tratamos em relação a ele. Por mais que não seja fácil e muita das vezes seja doloroso, uma introspecção se faz necessária para mudarmos o nosso mundo exterior e interior.

A editora Penalux, conseguiu mais uma vez se superar na qualidade e densidade de uma obra tão perfeita como esta. Aos amantes da filosofia e ficção científica é uma pedida mais que certeira.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Minhas impressões do livro: Observadores de Formigas

Observar formigas, abelhas, insetos em geral, nos mostra a grande semelhança entre nós, seres humanos, e esses pequenos seres viventes que se organizam por instinto natural. Óbvio que há diferença pela questão cognitiva, nosso livre arbítrio, mas na essência a semelhança é gritante, tendo em vista que no ciclo da vida, todos nascemos, crescemos, reproduzimo-nos, envelhecemos e morremos. Essa amarração principiológica é interessante e necessária, antes de se adentrar as especificidades desta obra linda chamada de ‘Observadores de Formigas’, do exímio escritor Glauber Vieira Ferreira.

Essa obra é construída com dezenas de minicontos, os quais relatam o comum comportamento humano em seus diversos anseios existenciais. É inerente a cada ser humano sentimentos e comportamentos, como o do humor, tristeza, raiva, medo, etc., talvez seja isso o que nos faz tão parecidos uns aos outros, mesmo com tantas diferenças sociais e culturais.

Há uma inteligência muito interessante por detrás da construção desse livro, pois não foi apenas um apanhado de histórias aleatórias, muito pelo contrário. Como já mencionado, a similaridade de sentimentos externalizada nas páginas o faz ficar mais atrativo, pois acredito que essa identificação atrai ainda mais a atenção do leitor. Outro ponto que destaca a expertise do escritor nessa construção, é a cronologia das histórias, que sem dúvida as une mesmo com suas distinções.

Cheguei à conclusão de que cada miniconto pode ser tratado como um “gatilho” na imaginação humana, com a tarefa de tirar o leitor de sua zona de conforto, o fazendo viajar na vastidão dos seus pensamentos ilimitados. Não existe um enredo pronto, prolixo, mastigado com início, meio e fim, mas o estopim para cria-lo.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Minhas impressões do livro: O Meu Engenho de Estrelas


Uma missão diferenciada é escrever sobre um livro de poesias. Não há como comparar uma resenha de um romance com uma obra de associações perfeitas de palavras harmoniosas como esta, pois enquanto um carrega um enredo em uma determinada linha cronológica, ou outro segue a linha da sensibilidade humana, dos sentimentos mais íntimos de cada leitor.

Pode-se dizer que existe um sentimento para cada verso, que pode variar a cada momento de vida que se está passando. Ou seja, o que entendo e sinto hoje ao ler poesias, pode, e muito provavelmente será, diferente na posteridade.

O Meu Engenho de Estrelas’ é um concatenado de versos profundos, que nos levam a uma reflexão sobre diversos aspectos da existência humana. Essa característica só evidencia a competência e brilhantismo do autor Carlos Almir Ferreira, que não “amontoa” palavras, mas dá verdadeiro significado a elas. Tomo a liberdade de citar:

FOGO
Quebro o fósforo
apago o pavio
se nada me resta
incendeio o vazio

Depreendendo-me ao verso acima, senti que cada ser humano deve emitir/ser luz, independentemente da situação que esteja passando. Li pela manhã e confesso que me senti revigorado, pois é um texto que vai de encontro ao nosso íntimo.

A diagramação do livro é linda, permitindo que se “deguste” seu conteúdo aos poucos, se permitindo viver uma verdadeira experiência de introspecção. O que apenas ratifica minha admiração pela editora Penalux, dando o devido valor aos autores e obras nacionais.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Minhas impressões do livro: O Alfaiate


Acredito que as primeiras sensações vindas a mim durante a leitura de “O Alfaiate”, foram de admiração por uma escrita precisa, clara e sem qualquer tipo de prolixidade, no entanto, o peso do enredo se fez presente. Um serial killer de crianças e uma seita secreta que abusava de menores, faz com que o coração do leitor se aperte demasiadamente, liberando repulsa e tristeza a cada página, além da curiosidade que é aguçada a todo momento para que se descubra quem é o algoz dessa trama. Essa leitura nos marca de várias formas como será demonstrado mais adiante.

O personagem central é um jornalista chamado Diogo, que carregava o peso de ter descoberto há vinte anos uma seita secreta que realizava rituais com menores, mas o comunicador não conseguira provar suas descobertas, e com isso, teve sérias complicações além do descrédito.

Depois deste ocorrido, muitos anos mais tarde, começa a receber em seu aparelho celular, mensagens de um serial killer de crianças, indicando o local onde deixara suas vítimas. Requintes de crueldade eram cometidos, fazendo da leitura uma atividade extremamente pesada, o que não tira o desejo do leitor prosseguir, sendo inegável o talento do escritor em nos amarrar à sua obra.

Uma seita repleta de membros da alta sociedade santista, inclusive da classe política, torna a leitura interessante, pois no decorrer das linhas há uma mescla com acontecimentos reais, como a prisão do ex-presidente e o atentado à faca do atual chefe do poder executivo federal. Essa mistura torna o livro mais atraente em termos de trama, nos aproximando mais dos acontecimentos.

E por fim, toda a ação do livro para desmantelar a seita e descobrir o assassino, nos deixa completamente eletrizados. Mas ao final, somos surpreendidos com o resultado, pois a organização secreta é descoberta e desfeita, com a prisão e morte de parte de seus membros. Contudo, a identidade do assassino em série ainda é uma incógnita, por mais que monstros tenham sido pegos e descobertos, a história não fechava completamente. Foi quando o radialista encaixa as peças e descobre que o namorado de um dos membros da seita havia sido abusado sexualmente, quando criança, pelos integrantes da associação.

Leonardo, a vítima quando criança, se tornou o assassino. Tudo isso para trazer “justiça” e desfazer as maldades do grupo secreto. O rapaz era claramente um psicopata, extraindo crianças do cativeiro da seita e as matando de maneira cruel, com o intuito de incriminar o já criminoso conluio secreto que o abusara na infância.

Este é um livro muito bem escrito, de uma qualidade técnica impecável. Sendo que, não poderia deixar de mencionar o capricho na edição, porque a cada capítulo novo, há no topo da página uma citação de um grande pensador das mais diversas épocas da história da humanidade. André Taka conseguiu um admirador, pois confeccionou uma verdadeira obra de arte.