É fato
que a vida é feita de diversos desafios diários, dos quais não podemos fugir. Com
isso, a labuta diária se torna um fardo a ser aliviado, do contrário, o monstro
do estresse e da monotonia absorve nossa sensibilidade de perceber as pequenas
coisas que nos dão felicidade e paz. E foi na literatura que, muita das vezes,
encontrei aconchego para a alma. O que ocorre com maestria no livro que será descrito
mais adiante.
Devo
render minhas mais sinceras homenagens ao notável Aguinaldo Tadeu, autor de um
dos romances mais belos, intrigantes e construtivos que já li. A obra chamada de
‘A Mulher que Proclamou a República’, mescla uma vida fictícia do Marechal
Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, com fatos históricos extremamente
relevantes do nosso país.
A
história acontece sob o olhar do serviçal Alcides, empregado de Deodoro, que
outrora servira a família real. Inicialmente, essa figura parece ser apenas um
ponto de vista interessante dos fatos que se desenrolam, mas a posteriori se
torna peça fundamental para um dos maiores eventos, se não o maior, que
marcaria uma mudança profunda na trajetória de nossa nação.
Marechal
Deodoro da Fonseca, lembrado como a figura militar que destituiu Dom Pedro II
do trono, vai muito além nessa obra. Sendo um homem muito vaidoso, sensível com
as mulheres, que declama poesias de Olavo Bilac em alta voz, além de um excelente
dançarino, consegue desconstruir a figura sisuda tão difundida.
Todos
esses belos adjetivos citados acima, somados a uma avassaladora paixão que
conseguiu deixar o homem que enfrentou guerras, totalmente rendido aos seus sentimentos.
Foi o que aconteceu com o comprometido marechal assim que encontrou Adelaide,
uma baronesa encantadora, viúva, inteligente e muito impetuosa. Que arrebatou
seu coração e razão.
Refletindo
sobre a mensagem transmitida, cheguei à conclusão de que polarização do sim ou
não, do oito ou oitenta, do bom e do mau, etc., não se sustenta. A essência da
vida e da história vai muito além, pois a realidade é feita de erros e acertos,
não seguindo uma linearidade. E essa mensagem Tadeu soube passar como ninguém.
Outro
ponto que torna a qualidade do enredo impecável, é o fato de que as histórias
se ligam de maneira muito harmoniosa e eletrizante. Seja na figura de Alcides, traficando
informações na época em que servia ao imperador, fato preponderante para a
queda do monarca; seja no suposto
envolvimento da baronesa com o político Silveira Martins, que virou algoz de
Deodoro, tanto que levou o marechal a proclamar a República para impedir que
tal homem fosse nomeado a Chefe de Governo do império.
Para
além da fabulosa trama, há de ser enaltecido todo o trabalho realizado ao final
de cada capítulo, que conta com notas reais e históricas que enriquecem demais
a obra. Observa-se então, uma maneira de ensinar muito rica, pois a forma
lúdica somada aos textos fáticos, tornam o aprendizado muito mais interessante
e saboroso de ser digerido.
Quem se
envereda nessa leitura, consegue vislumbrar uma República feita às pressas, bem
como os vários motivos “peculiares” de sua proclamação. Em contraponto, uma
monarquia consolidada, feita de figuras historicamente relevantes na evolução
do Brasil como uma nação, faz desse livro uma importante ferramenta de
construção de um olhar crítico, tendo em vista o material utilizado, como
aponta as fontes bibliográficas.
Por
fim, a editora Penalux se supera mais uma vez na qualidade literária, enaltecendo
personagens nacionais importantíssimos que não podem ser esquecidos jamais. Nesse
sentido, vale citar as palavras do saudoso e ilustre Rui Barbosa: “a morte não
extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima”.
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