domingo, 12 de julho de 2020

Minhas impressões do livro: A mulher que proclamou a república

É fato que a vida é feita de diversos desafios diários, dos quais não podemos fugir. Com isso, a labuta diária se torna um fardo a ser aliviado, do contrário, o monstro do estresse e da monotonia absorve nossa sensibilidade de perceber as pequenas coisas que nos dão felicidade e paz. E foi na literatura que, muita das vezes, encontrei aconchego para a alma. O que ocorre com maestria no livro que será descrito mais adiante.

Devo render minhas mais sinceras homenagens ao notável Aguinaldo Tadeu, autor de um dos romances mais belos, intrigantes e construtivos que já li. A obra chamada de ‘A Mulher que Proclamou a República’, mescla uma vida fictícia do Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, com fatos históricos extremamente relevantes do nosso país.

A história acontece sob o olhar do serviçal Alcides, empregado de Deodoro, que outrora servira a família real. Inicialmente, essa figura parece ser apenas um ponto de vista interessante dos fatos que se desenrolam, mas a posteriori se torna peça fundamental para um dos maiores eventos, se não o maior, que marcaria uma mudança profunda na trajetória de nossa nação.

Marechal Deodoro da Fonseca, lembrado como a figura militar que destituiu Dom Pedro II do trono, vai muito além nessa obra. Sendo um homem muito vaidoso, sensível com as mulheres, que declama poesias de Olavo Bilac em alta voz, além de um excelente dançarino, consegue desconstruir a figura sisuda tão difundida.

Todos esses belos adjetivos citados acima, somados a uma avassaladora paixão que conseguiu deixar o homem que enfrentou guerras, totalmente rendido aos seus sentimentos. Foi o que aconteceu com o comprometido marechal assim que encontrou Adelaide, uma baronesa encantadora, viúva, inteligente e muito impetuosa. Que arrebatou seu coração e razão.

Refletindo sobre a mensagem transmitida, cheguei à conclusão de que polarização do sim ou não, do oito ou oitenta, do bom e do mau, etc., não se sustenta. A essência da vida e da história vai muito além, pois a realidade é feita de erros e acertos, não seguindo uma linearidade. E essa mensagem Tadeu soube passar como ninguém.

Outro ponto que torna a qualidade do enredo impecável, é o fato de que as histórias se ligam de maneira muito harmoniosa e eletrizante. Seja na figura de Alcides, traficando informações na época em que servia ao imperador, fato preponderante para a queda do monarca;  seja no suposto envolvimento da baronesa com o político Silveira Martins, que virou algoz de Deodoro, tanto que levou o marechal a proclamar a República para impedir que tal homem fosse nomeado a Chefe de Governo do império.

Para além da fabulosa trama, há de ser enaltecido todo o trabalho realizado ao final de cada capítulo, que conta com notas reais e históricas que enriquecem demais a obra. Observa-se então, uma maneira de ensinar muito rica, pois a forma lúdica somada aos textos fáticos, tornam o aprendizado muito mais interessante e saboroso de ser digerido.

Quem se envereda nessa leitura, consegue vislumbrar uma República feita às pressas, bem como os vários motivos “peculiares” de sua proclamação. Em contraponto, uma monarquia consolidada, feita de figuras historicamente relevantes na evolução do Brasil como uma nação, faz desse livro uma importante ferramenta de construção de um olhar crítico, tendo em vista o material utilizado, como aponta as fontes bibliográficas.

Por fim, a editora Penalux se supera mais uma vez na qualidade literária, enaltecendo personagens nacionais importantíssimos que não podem ser esquecidos jamais. Nesse sentido, vale citar as palavras do saudoso e ilustre Rui Barbosa: “a morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima”.

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