Um dos
livros mais difíceis que resenhei até hoje, pois a cada parágrafo, a cada
linha, acontecia uma reflexão através das simbologias contidas nele.
Prolixo, profundo e realista, são alguns adjetivos que podemos dar ao ‘Só os
objetos salvam!’ de Roberto Pio Borges.
Imagine
o maravilhoso Rio de Janeiro, mas sem a aglomeração de pessoas, pois no mundo
futurista não há mais a morte, devido aos nano robôs que circulam na corrente sanguínea.
No entanto, o fato de existir vida eterna trouxe uma consequência, o medo de
morrer! Isso mesmo, todos com medo de morrerem afogados, atropelados, ou até
mesmo por uma banalidade como um tropeço. Com isso, a humanidade se trancou em suas
casas.
A
solução para uma vida que passou ser vazia, tendo em vista que a brevidade da
vida faz os momentos serem intensos e muita das vezes únicos, foi a criação de
uma máquina chamada de “ventre”, onde as pessoas dormiriam nele para sempre,
seguros, em um “sonho”, uma espécie de transe eterno, em que os prazeres mais
íntimos seriam realizados constantemente. Para que isso fosse possível, a figura
dos robôs, altamente inteligentes e semelhantes a ser humano, passariam a ter o
papel de cuidadores.
O personagem
principal dessa obra é o padre Origo. Homem que já não exercia o ofício religioso
há muito tempo, já que as religiões caíram por terra com a possibilidade de ser
imortal. Vivendo com sua cuidadora Agnes, sem querer adormecer no sono eterno
de um “ventre”, como forma de punição pelos erros do passado que nem se
lembrava mais ao certo.
Ocorre
que o padre é convocado para uma missão e nesse meio tempo, novos personagens
vão aderindo à história. E cada um desses novos atores, transformam esse livro
em uma completa viagem filosófica para dentro de nós mesmos.
Questionamentos
com o de enfrentar a dura realidade da vida ou de fugir dela através das
artificialidades; o quanto somos destrutivos com a natureza e na correria
diária deixamos de apreciar a beleza dos ambientes; de que a graça da vida está
na brevidade, pois a eternidade poderia ser uma maldição; enfim, poderia
descrever várias linhas dos pensamento que me acometeram no decorrer da
apreciação desse livro.
Um dos
pontos altos que vale a pena destacar, é que em um dado momento, o padre
descobre que toda a sua vida é transmitida para pessoas do mundo todo por meio
de seus olhos, com a ajuda da tecnologia que circulava em suas veias. Nesse
interim, várias situações acontecem para provocar os limites da moralidade
humana, da sanidade mental. Interessante e premente se faz reflexões nesse
aspecto em tempos de reality shows.
Por fim,
uma analogia interessante que se pode fazer desse livro é a clássica história
do ‘Mito da Caverna’, de ‘A República’, de Platão. Em que um homem preso
durante a vida toda em uma caverna, ao ver o sol e sentir a dor por sair de seu
local escuro, da posição que sempre se encontrou, sofreu a segregação de seus
companheiros que não tiveram a mesma coragem de sair daquela situação.
Ler Roberto
Pio Borges, é um exercício de auto crítica, da maneira que tratamos o mundo,
mas também da maneira que nos tratamos em relação a ele. Por mais que não seja
fácil e muita das vezes seja doloroso, uma introspecção se faz necessária para mudarmos
o nosso mundo exterior e interior.
A editora
Penalux, conseguiu mais uma vez se superar na qualidade e densidade de uma obra
tão perfeita como esta. Aos amantes da filosofia e ficção científica é uma pedida
mais que certeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário