quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Minhas impressões do livro: Só os objetos salvam!


Um dos livros mais difíceis que resenhei até hoje, pois a cada parágrafo, a cada linha, acontecia uma reflexão através das simbologias contidas nele. Prolixo, profundo e realista, são alguns adjetivos que podemos dar ao ‘Só os objetos salvam!’ de Roberto Pio Borges.

Imagine o maravilhoso Rio de Janeiro, mas sem a aglomeração de pessoas, pois no mundo futurista não há mais a morte, devido aos nano robôs que circulam na corrente sanguínea. No entanto, o fato de existir vida eterna trouxe uma consequência, o medo de morrer! Isso mesmo, todos com medo de morrerem afogados, atropelados, ou até mesmo por uma banalidade como um tropeço. Com isso, a humanidade se trancou em suas casas.

A solução para uma vida que passou ser vazia, tendo em vista que a brevidade da vida faz os momentos serem intensos e muita das vezes únicos, foi a criação de uma máquina chamada de “ventre”, onde as pessoas dormiriam nele para sempre, seguros, em um “sonho”, uma espécie de transe eterno, em que os prazeres mais íntimos seriam realizados constantemente. Para que isso fosse possível, a figura dos robôs, altamente inteligentes e semelhantes a ser humano, passariam a ter o papel de cuidadores.

O personagem principal dessa obra é o padre Origo. Homem que já não exercia o ofício religioso há muito tempo, já que as religiões caíram por terra com a possibilidade de ser imortal. Vivendo com sua cuidadora Agnes, sem querer adormecer no sono eterno de um “ventre”, como forma de punição pelos erros do passado que nem se lembrava mais ao certo.

Ocorre que o padre é convocado para uma missão e nesse meio tempo, novos personagens vão aderindo à história. E cada um desses novos atores, transformam esse livro em uma completa viagem filosófica para dentro de nós mesmos.

Questionamentos com o de enfrentar a dura realidade da vida ou de fugir dela através das artificialidades; o quanto somos destrutivos com a natureza e na correria diária deixamos de apreciar a beleza dos ambientes; de que a graça da vida está na brevidade, pois a eternidade poderia ser uma maldição; enfim, poderia descrever várias linhas dos pensamento que me acometeram no decorrer da apreciação desse livro.

Um dos pontos altos que vale a pena destacar, é que em um dado momento, o padre descobre que toda a sua vida é transmitida para pessoas do mundo todo por meio de seus olhos, com a ajuda da tecnologia que circulava em suas veias. Nesse interim, várias situações acontecem para provocar os limites da moralidade humana, da sanidade mental. Interessante e premente se faz reflexões nesse aspecto em tempos de reality shows.

Por fim, uma analogia interessante que se pode fazer desse livro é a clássica história do ‘Mito da Caverna’, de ‘A República’, de Platão. Em que um homem preso durante a vida toda em uma caverna, ao ver o sol e sentir a dor por sair de seu local escuro, da posição que sempre se encontrou, sofreu a segregação de seus companheiros que não tiveram a mesma coragem de sair daquela situação.

Ler Roberto Pio Borges, é um exercício de auto crítica, da maneira que tratamos o mundo, mas também da maneira que nos tratamos em relação a ele. Por mais que não seja fácil e muita das vezes seja doloroso, uma introspecção se faz necessária para mudarmos o nosso mundo exterior e interior.

A editora Penalux, conseguiu mais uma vez se superar na qualidade e densidade de uma obra tão perfeita como esta. Aos amantes da filosofia e ficção científica é uma pedida mais que certeira.

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