Quanta
dor a alma de um ser humano é capaz de suportar? A necessidade diária de se levantar
e, mesmo sem vontade, ter que prosseguir, é chamada por muitos de resiliência. Contudo,
nomenclaturas são tão irrelevantes quando a necessidade e a dor imposta pela
vida não deixam outra alternativa a não ser seguir, não se sabe se em frente,
mas seguir o duro caminho que é viver.
Uma
obra extremamente tocante, dolorosa e realista, assim defino em poucas palavras
o magnífico livro “Marcados pela Luta”, de Marcos Zanon. Que consegue
sintetizar com maestria a nobre arte de transformar em palavras o espetáculo da
vida humana. Sensível ao ponto de não dar uma personalidade clichê a um
personagem, construindo no decorrer dos capítulos a justificativa dos moldes do
caráter cada um.
Se
emocionar a cada página é inevitável, trazendo reflexões profundas sobre os
fatos que nos levam a ser quem somos. Inicialmente, vemos a figura de um avô
rígido com seu neto, mas o homem cansado por uma vida carregada de muito
trabalho e sofrimento, apenas queria evitar o mesmo destino para o pequeno
neto. Quando é narrada a dura infância desse senhor em uma miserável vida de
abusos, fome e privações, repensamos suas atitudes e começamos a nos colocar em
seu lugar. Talvez seja isso que falte nos dias atuais, mais empatia pelo próximo.
Algo
que mexe com a estabilidade emocional do leitor são as perdas de entes queridos,
seja pela morte, seja em vida. No primeiro caso, a dor causada pelo falecimento
é acentuada quando pais lamentam, quase em gemidos, a partida daquele filho que
tanto desgosto lhes deu. A companheira de tantos anos que repentinamente deixa
esse mundo. Aquele avô companheiro, e que no último dia de vida, lhe dá um
abraço como se soubesse de sua hora.
No que
tange a perda em vida, pode se vislumbrar o processo de amadurecimento que todo
ser humano passa na adolescência, onde se está disposto a loucuras por um amor,
que muita das vezes, só existe no mundo platônico das ideias. Outro caso de
perda em vida, é a valorização de quem tudo fez pelo outro, mas que só foi
percebido quando já era tarde demais. Portanto, reflexões profundas se edificam
a frente daqueles que se debruçam sobre essa obra tão ímpar.
E por
fim, algumas lições podem ser extraídas dessa história, como: o ser humano tem
um limite que deve ser respeitado, mesmo com a vida sendo marcada por tantas adversidades;
e de que cada pessoa carrega consigo uma trajetória que deve ser levada
em consideração, como base de uma sociedade plural em pensamentos e opiniões.
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