sábado, 21 de dezembro de 2019

Minhas impressões do livro: Os Aliciadores


Que sensação boa é devorar um livro! Algumas obras apenas lemos, outras devoramos com todo afinco. Isso aconteceu com a esplêndida escrita de Lourenço Dutra, em ‘Os Aliciadores’. Uma trama de tirar o fôlego, com uma crítica política e social de nos colocar em estado de reflexão constante.

Essa história é protagonizada por dois personagens, o que narra, chamado de Alberto, e seu parceiro Dioclécio. Em suma, a “profissão” dos jovens rapazes é a de aliciadores, ou como preferem ser chamados mais classicamente, de “lobistas”. A função deles se resumia em convencer pessoas pobres a se mudarem para o subúrbio do Distrito Federal, transferindo títulos de eleitor para votar em um determinado candidato.

Chegando em uma cidade do interior da Bahia, com intuito de colocar em prática seus planos de aliciar o máximo de pessoas, a dupla encontra obstáculos do poder local, que também exploravam os pobres, o que deixa a trama mais emocionante, com direito a tiros e perseguição automobilística.

Mas para que esse livro se tornasse tão cativante, a vida pregressa dos dois homens tinha que ser explorada. Alberto, homem casado e pai de uma menina, vivia uma crise em seu casamento, por que sua esposa o traía com o pastor da igreja que frequentara. A sensação passada, ao menos a mim, é de que Alberto se reprimia constantemente, por ter uma fagulha de esperança de recuperar seu matrimônio, no entanto, essa percepção foi se apagando quando conheceu uma jovem moça alemã, e sendo apagada por completo quando sua esposa confessou a traição e pediu a separação.

E o que falar de Dioclécio? Homem viril, mas um perfeito babaca. Extremamente arrogante, mal-educado e impulsivo, não tinha papas na língua, além de ser muito mulherengo, o que causou algumas boas brigas. Mas vale ressaltar que todo comportamento tem um motivo mais profundo do que conseguimos imaginar. E isso se deu com Dioclécio, no episódio em que defende um homossexual sendo agredido na rua, pois, mais tarde, descobriríamos que o aliciador de pobres cresceu nas ruas, indo parar em orfanato e mais tarde adotado por um casal gay.

A linguagem do livro é fluida, de fácil entendimento, passando uma sensação de “quero mais” a cada página. Uma crítica dura deve ser feita ao ler a obra de Dutra, mas não contra o autor, e sim contra a manipulação de políticos poderosos à democracia, se aproveitando de pessoas pobres para angariar o maior número de simpatizantes. Isso nos soa extremamente familiar nos dias atuais.

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