Que
sensação boa é devorar um livro! Algumas obras apenas lemos, outras devoramos
com todo afinco. Isso aconteceu com a esplêndida escrita de Lourenço Dutra, em ‘Os
Aliciadores’. Uma trama de tirar o fôlego, com uma crítica política e social de
nos colocar em estado de reflexão constante.
Essa
história é protagonizada por dois personagens, o que narra, chamado de Alberto,
e seu parceiro Dioclécio. Em suma, a “profissão” dos jovens rapazes é a de
aliciadores, ou como preferem ser chamados mais classicamente, de “lobistas”. A
função deles se resumia em convencer pessoas pobres a se mudarem para o subúrbio
do Distrito Federal, transferindo títulos de eleitor para votar em um
determinado candidato.
Chegando
em uma cidade do interior da Bahia, com intuito de colocar em prática seus
planos de aliciar o máximo de pessoas, a dupla encontra obstáculos do poder
local, que também exploravam os pobres, o que deixa a trama mais emocionante,
com direito a tiros e perseguição automobilística.
Mas
para que esse livro se tornasse tão cativante, a vida pregressa dos dois homens
tinha que ser explorada. Alberto, homem casado e pai de uma menina, vivia uma
crise em seu casamento, por que sua esposa o traía com o pastor da igreja que frequentara.
A sensação passada, ao menos a mim, é de que Alberto se reprimia constantemente,
por ter uma fagulha de esperança de recuperar seu matrimônio, no entanto, essa
percepção foi se apagando quando conheceu uma jovem moça alemã, e sendo apagada
por completo quando sua esposa confessou a traição e pediu a separação.
E o
que falar de Dioclécio? Homem viril, mas um perfeito babaca. Extremamente
arrogante, mal-educado e impulsivo, não tinha papas na língua, além de ser muito
mulherengo, o que causou algumas boas brigas. Mas vale ressaltar que todo
comportamento tem um motivo mais profundo do que conseguimos imaginar. E isso se
deu com Dioclécio, no episódio em que defende um homossexual sendo agredido na
rua, pois, mais tarde, descobriríamos que o aliciador de pobres cresceu nas
ruas, indo parar em orfanato e mais tarde adotado por um casal gay.
A
linguagem do livro é fluida, de fácil entendimento, passando uma sensação de “quero
mais” a cada página. Uma crítica dura deve ser feita ao ler a obra de Dutra,
mas não contra o autor, e sim contra a manipulação de políticos poderosos à
democracia, se aproveitando de pessoas pobres para angariar o maior número de
simpatizantes. Isso nos soa extremamente familiar nos dias atuais.
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