Esta é uma trama extraordinariamente escrita com
emoção e inteligência. Dois fatores que casam perfeitamente, mas que nem sempre
são vistos no decorrer dos diversos livros que se encontram disponíveis para
consumo.
A história se inicia com um advogado defendendo
os interesses da empresa onde trabalha, pois este está na iminência de ser o
algoz do fechamento de um grande negócio escuso.
O interesse do rapaz obstinado está para além
dos comumente empresariais. É casado com a filha do chefe, que vive de maneira
fria em meio ao luxo. Todo sucesso que Orlando almeja é dedicado para seu
ingresso em uma seita secreta na qual a família de sua esposa é integrante.
O doutor Orlando não mede esforços e a trama se
desenrola com a expectativa do seu ritual de aceitação no grupo secreto. Mortes
muito bem elaboradas são criadas para dar aquele gosto de história policial,
mostrando a frieza e o calculismo dos atos do protagonista. Mas o sentimento de
frustração e fraqueza que parece não existir na vida do rapaz é vista em dois momentos
cruciais: quando reencontra sua mãe que o abandonara na infância, bem como o
episódio em que seu amigo de infância se acidenta gravemente, por influência
indireta de seus atos.
Durante toda a história o autor libera doses
homeopáticas do que seria essa seita, revelando aos poucos seus rituais e
costumes, portanto, quando se chega os final da história, a revelação do ritual
de aceitação causa um choque, primeiro pela espera desse episódio que se criou
a cada página lida, depois, pelo fato de usarem a criança adotada pelo casal
para sacrifício no ritual de consagração de Orlando.
Seria no mínimo desrespeitoso entregar o que
aguarda as últimas páginas dessa obra incrível, mas é certo que há muitas
reviravoltas durante a história, o místico se revela na medida certa, além de
todo embasamento que foi criado para justificar a existência de tal seita em
território brasileiro.
Luxúria, ganância e sofrimento são alguns dos
sentimentos claramente expostos em 'Malditos'. Um livro que sai do óbvio, que
vai além das expectativas criadas quando se lê seu título ou observa sua capa. Um
escritor como Anderson Pires da Silva, que tira o leitor da zona de conforto é sempre digno das maiores
homenagens.
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