Inicialmente
fica difícil definir o misto de sensações que se têm ao ler esse livro
espetacular. Mas para os que procuram se prender, como em uma espécie de transe
pelo brilhantismo do intelecto do autor, essa leitura é o convite perfeito sem
qualquer tipo de arrependimentos. Marcelo Lemes consegue com maestria dar
personalidade aos personagens, bem como nos ambientar de maneira breve, mas
assertiva.
Em
Destinos Invisíveis, a personagem principal, Katarina, é uma mulher nascida das
entranhas do mal, no entanto, a cada episódio percebemos o quanto ela não segue
aquele padrão clichê de maldade desenfreada, ou de psicopatia, onde
características patológicas são bem evidentes. Ela tem a maldade correndo em
suas veias, porém sua humanidade, mesmo que mostrada com sutileza (a qual rendo
minhas homenagens ao escritor), pode ser vista, e, com isso, uma fagulha de
esperança nasce no coração de quem lê.
Sedução
é uma característica muito latente na protagonista desta obra, inicialmente
pode ser vista na história em que Willian, patrão de Katarina, tenta seduzi-la,
mas é surpreendido com uma vingança inesperada por parte da moça que sabe que ele
é casado e trai constantemente a mulher. Não preciso mencionar que durante todo
o percurso de leitura, frieza e inteligência são pontos demonstrados
constantemente como um traço fixo na personalidade da moça.
Poucas
foram as vezes que me senti assustado com a descrição de cenas. Creio que a palavra
mais correta para descrever o capítulo de Amadeus, seja horrorizado, o que me
deixou completamente empolgado, visto que poucos autores conseguem a proeza de adentrar
no mais profundo conceito de moral e humanidade de um ser humano, ao ponto de deixa-lo
espantado e chocado. Sem muitos “spoilers”, após ser cruelmente atacado por um
homem vingativo, Amadeus se encontrava no estado mais deplorável da condição
humana, desejando a morte devido ao sofrimento e a conclusão de que sua vida foi
um concatenado de desastres. Com isso, pede a sua estranha amiga,
Katarina, que o mate para por um fim ao seu sofrimento. Esta por sua vez,
aceita o pedido e o concretiza, no que posso chamar de “a maneira mais
desesperadora de se morrer”.
Este
definitivamente não é um livro para crianças, e não é somente pelos requintes
de crueldade, mas pelo conteúdo erótico narrado de forma tão inteligente que
não pude ver a vulgaridade, e sim, a atração química entre seres humanos. Isto
posto, não há como deixar de mencionar a breve amizade de Katarina com as irmãs
gêmeas Felina e Fiorela, instigadas pela protagonista a um caminho de perversão
sem volta, perpetuando o incesto às escondidas pelo resto da vida das duas.
Quando
chegamos ao momento em que Katarina se estabiliza em um relacionamento com Judas,
criou-se a sensação de que o amor poderia mudá-la. Tal pensamento é concebido
com base nas mais diversas experiencias que temos ao ler, ouvir músicas, ver
filmes e series de televisão, mas Marcelo Lemes foge de qualquer tipo de padrão
e nos surpreende com a gravidez da personagem principal, elemento que
concretizaria qualquer pensamento de mudança, no entanto, Judas era apenas um
instrumento de experimentação, ou melhor um passatempo para ela. Tão cruel
quanto uma morte violenta, é a morte decorrente do desprezo, da indiferença e
do incentivo ao fundo do poço. Tal como o personagem bíblico, Judas se matou,
mas de maneira mais trágica e dolorosa.
E
por fim, mas não menos importante, Natália, filha de Katarina, por uns
instantes foi a causadora de uma normalidade na rotina libertina dessa
protagonista tão emblemática. Até que um ser trevoso passou a realizar visitas à criança, conquistando sua amizade e fidelidade, levando-a a cometer pequenos
crimes a assassinatos. A pequena tinha o DNA do mal em suas veias, vindos de
sua mãe, que ao descobrir, fez o que normalmente ninguém faria.
Nota:
Sou extremamente
grato a Editora Penalux por ter me presenteado com um livro tão expressivo. Defendo
sempre que a literatura brasileira é recheada de escritores brilhantes como este
que vos trago.
Nenhum comentário:
Postar um comentário