quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Minhas impressões do livro: Destinos invisíveis


Inicialmente fica difícil definir o misto de sensações que se têm ao ler esse livro espetacular. Mas para os que procuram se prender, como em uma espécie de transe pelo brilhantismo do intelecto do autor, essa leitura é o convite perfeito sem qualquer tipo de arrependimentos. Marcelo Lemes consegue com maestria dar personalidade aos personagens, bem como nos ambientar de maneira breve, mas assertiva.

Em Destinos Invisíveis, a personagem principal, Katarina, é uma mulher nascida das entranhas do mal, no entanto, a cada episódio percebemos o quanto ela não segue aquele padrão clichê de maldade desenfreada, ou de psicopatia, onde características patológicas são bem evidentes. Ela tem a maldade correndo em suas veias, porém sua humanidade, mesmo que mostrada com sutileza (a qual rendo minhas homenagens ao escritor), pode ser vista, e, com isso, uma fagulha de esperança nasce no coração de quem lê.

Sedução é uma característica muito latente na protagonista desta obra, inicialmente pode ser vista na história em que Willian, patrão de Katarina, tenta seduzi-la, mas é surpreendido com uma vingança inesperada por parte da moça que sabe que ele é casado e trai constantemente a mulher. Não preciso mencionar que durante todo o percurso de leitura, frieza e inteligência são pontos demonstrados constantemente como um traço fixo na personalidade da moça.

Poucas foram as vezes que me senti assustado com a descrição de cenas. Creio que a palavra mais correta para descrever o capítulo de Amadeus, seja horrorizado, o que me deixou completamente empolgado, visto que poucos autores conseguem a proeza de adentrar no mais profundo conceito de moral e humanidade de um ser humano, ao ponto de deixa-lo espantado e chocado. Sem muitos “spoilers”, após ser cruelmente atacado por um homem vingativo, Amadeus se encontrava no estado mais deplorável da condição humana, desejando a morte devido ao sofrimento e a conclusão de que sua vida foi um concatenado de desastres. Com isso, pede a sua estranha amiga, Katarina, que o mate para por um fim ao seu sofrimento. Esta por sua vez, aceita o pedido e o concretiza, no que posso chamar de “a maneira mais desesperadora de se morrer”.

Este definitivamente não é um livro para crianças, e não é somente pelos requintes de crueldade, mas pelo conteúdo erótico narrado de forma tão inteligente que não pude ver a vulgaridade, e sim, a atração química entre seres humanos. Isto posto, não há como deixar de mencionar a breve amizade de Katarina com as irmãs gêmeas Felina e Fiorela, instigadas pela protagonista a um caminho de perversão sem volta, perpetuando o incesto às escondidas pelo resto da vida das duas.

Quando chegamos ao momento em que Katarina se estabiliza em um relacionamento com Judas, criou-se a sensação de que o amor poderia mudá-la. Tal pensamento é concebido com base nas mais diversas experiencias que temos ao ler, ouvir músicas, ver filmes e series de televisão, mas Marcelo Lemes foge de qualquer tipo de padrão e nos surpreende com a gravidez da personagem principal, elemento que concretizaria qualquer pensamento de mudança, no entanto, Judas era apenas um instrumento de experimentação, ou melhor um passatempo para ela. Tão cruel quanto uma morte violenta, é a morte decorrente do desprezo, da indiferença e do incentivo ao fundo do poço. Tal como o personagem bíblico, Judas se matou, mas de maneira mais trágica e dolorosa.

E por fim, mas não menos importante, Natália, filha de Katarina, por uns instantes foi a causadora de uma normalidade na rotina libertina dessa protagonista tão emblemática. Até que um ser trevoso passou a realizar visitas à criança, conquistando sua amizade e fidelidade, levando-a a cometer pequenos crimes a assassinatos. A pequena tinha o DNA do mal em suas veias, vindos de sua mãe, que ao descobrir, fez o que normalmente ninguém faria.

Nota:
Sou extremamente grato a Editora Penalux por ter me presenteado com um livro tão expressivo. Defendo sempre que a literatura brasileira é recheada de escritores brilhantes como este que vos trago.

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