Difícil expressar em algumas linhas uma
experiência literária transcendental como esta. Sou sincero ao dizer que,
inicialmente, achei que seria uma leitura desconexa e frustrante, mas estava redondamente
enganado. Nessa obra você é um, mas ao mesmo tempo muitos, em uma profusão de
personalidades e sentimentos. Incrível como alguém pode condensar em um livro a
essência do comportamento humano, e, com isso, vê-se de pronto a vocação e
talento desse brilhante escritor.
Dividido em três capítulos, ‘Corações ruidosos em queda livre’, consegue nos transportar para diferentes universos existentes no interior de cada pessoa. É um livro denso, que já na primeira história consegue trazer a explanação do diálogo que ocorre na cabeça de doze pessoas viajando juntas dentro de um ônibus. Saber que cada indivíduo traz dentro de si um concatenado de traumas, alegria, frustrações, que jamais seriam levadas em conta, se não por um escritor de sensibilidade artística ímpar como Alex Sens.
Senti repulsa, tristeza, compaixão, raiva, entre outras coisas na segunda parte do livro. Mas quando analisei ao final, percebi que eu havia sentido (mexeu como minhas emoções). Então o artista atingiu seu objetivo, tocou-nos de alguma forma com aquele trabalho. Nessa história, o suicídio se torna a atração principal de uma galeria. Do ponto de vista de um jovem rapaz que foi se vendo envolvido por uma história de desfazimento do sentido de viver. A forma com que o cheiro do detergente de maça era descrito nesse capítulo, com o qual se utilizavam os peculiares ajudantes de limpeza, após as “apresentações” para limpar o sangue, me fez ter náuseas e admiração pela habilidade apresentada nos detalhes, que nos mergulham a cada minuto nessa leitura.
Na terceira história, um compilado de cartas de uma mulher doente. Mas a doença dela ia além de um câncer que a consumia, era uma doença na alma. A cada linha descrita por ela era possível perceber quanto ódio nutria pelas pessoas à sua volta. Com o passar do tempo fiquei me perguntando: “o que nos separa desse sentimento?”. Foi quando li algo que mexeu muito comigo:
“Eu sempre me diverti muito com a minha imaginação, talvez por isso as pessoas achem que estou sempre bem, quando, na verdade, fico só imaginando formas de fugir delas, de acabar com elas, de acabar comigo ou de idealizar um apocalipse perfeito. Viver nesse universo paralelo dá muito mais sentido à vida do que reclamar dela e encará-la com conformismo. Por isso cheguei ao ponto que nos encontramos.”
Quando concluí a leitura de todo o livro, lembrei-me inevitavelmente de Arthur Schopenhauer:
“Pode-se deduzir que a vida é dor, porque vontade é desejo daquilo que não se tem, é ausência, privação e sofrimento, sobretudo se considerado o fato de que Satisfação Duradoura e permanente objeto algum do querer pode fornecer.”
O ser humano vive em uma batalha interna ferrenha, todos os dias em busca de algo que não se sabe. Alguns procuram a religião, outros o autoconhecimento e a meditação, alguns as drogas lícitas e ilícitas, enfim, viemos de “fábrica” com essa especificidade. Cabe a cada um de nós entender que não somos os únicos no mundo nessa condição, e que é preciso olhar mais para o lado com um pouco mais de empatia.
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