sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Minhas impressões do livro: A biblioteca.


Existem obras literárias que nos impactam, pois vão de encontro ao nosso íntimo através de identificações, seja pela personalidade dos personagens, seja pelos acontecimentos do livro com os quais nos identificamos.

Em síntese, o personagem principal sonha com uma vida diferente, pois como jovem, cheio de sonhos, se vê cansado da situação de miséria em que se encontra. No entanto, as barreiras enfrentadas por ele não são poucas, uma vez que sua própria família não o apoia.

Ainda nesse diapasão, d. Manuela, uma senhora de avançada idade, com uma história de vida muito sofrida, atravessa a vida de Samuel, apresentando-lhe um novo universo, o dos livros. Essa senhora guarda complexidades bem mais profundas do que inicialmente se vê.

O livro mostra que Samuel têm impulsos inerentes à pouca idade, no entanto, o mesmo adquire um grande desejo de conhecimento. Deixando as amizades nocivas de lado para se dedicar aos seus sonhos.

Creio que não se mudou muito desde que os fatos narrados (na era do governo militar). Falo isso, pois as interferências políticas na educação visavam os benefícios próprios dos mandatários, não o bem-estar e desenvolvimento de seres pensantes e críticos. Triste realidade que ainda ocorre.

A indignação é um sentimento que aflora no desenvolvimento dessa leitura, pois os desmandos dos três poderes no âmbito municipal, são arbitrários, corruptos e omissos. Mas a crítica que o autor repassa é clara, a de que a população, por ter adquirido a cultura de não buscar conhecimento através de livros/ estudos, aceita o que lhe é dado, sem questionamentos.

Essa obra foge do convencional, em dois sentidos: 1º) a maneira com que o autor redigiu essa obra foi inovadora, pelo menos para mim, que li pela primeira vez diálogos imersivos, sem me preocupar com as regras cultas da língua portuguesa, mas escrevendo da maneira que o personagem falava/pensava. Definitivamente, um estilo de escrita simples, porém inclusivo e inovador. Comprovando assim, a habilidade de transferência de informações através das palavras. Uma inspiração. 2º) esse é um livro que deve ser saboreado capítulo por capítulo, pois, na minha opinião, não têm grandes desfechos. Mas isso deve ser coisa minha, até porque sou alguém que gosta de finais felizes e pontas bem amarradas a todo instante, mas a vida não é bem assim.

Por fim, esse será um livro que ficará guardado em minha memória, pois tive com ele uma relação de amor e ódio, porém, mais amor que ódio. Selecionei dois pequenos trechos que me inspiraram sobremaneira. Segue:

“... Agora que escrevo sou aquele adolescente, meio perdido numa tempestade escura, e que precisava acreditar em alguém. Minha crença se inclinou toda para d. Manuela, aquela senhora quase corcunda, meio esquecida de todos, mas que cuidava dos livros como quem despende o amor por alma rara de brilho intenso e eterno.”
....
“...Parece que d. Manuela teve a mesma sensação, porque baixou a cabeça e demonstrou em rugas uma tristeza nunca vista por mim. Levantou-se, tirou o livro da estante e disse que a gente devia continuar a leitura; eu penso, a leitura é um rio sem margens e de correnteza infinita. Lemos.”

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Essa resenha foi mais uma parceria junto à Editora Penalux.
É sempre um prazer e uma honra receber obras tão nobres.
Link para adquirir o livro da resenha: https://www.editorapenalux.com.br/loja/aloisio-dantas

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