Existem
obras literárias que nos impactam, pois vão de encontro ao nosso íntimo através
de identificações, seja pela personalidade dos personagens, seja pelos
acontecimentos do livro com os quais nos identificamos.
Em
síntese, o personagem principal sonha com uma vida diferente, pois como jovem,
cheio de sonhos, se vê cansado da situação de miséria em que se encontra. No
entanto, as barreiras enfrentadas por ele não são poucas, uma vez que sua própria
família não o apoia.
Ainda
nesse diapasão, d. Manuela, uma senhora de avançada idade, com uma história de
vida muito sofrida, atravessa a vida de Samuel, apresentando-lhe um novo
universo, o dos livros. Essa senhora guarda complexidades bem mais profundas do
que inicialmente se vê.
O
livro mostra que Samuel têm impulsos inerentes à pouca idade, no entanto, o
mesmo adquire um grande desejo de conhecimento. Deixando as amizades nocivas de
lado para se dedicar aos seus sonhos.
Creio
que não se mudou muito desde que os fatos narrados (na era do governo militar).
Falo isso, pois as interferências políticas na educação visavam os benefícios
próprios dos mandatários, não o bem-estar e desenvolvimento de seres pensantes
e críticos. Triste realidade que ainda ocorre.
A
indignação é um sentimento que aflora no desenvolvimento dessa leitura, pois os
desmandos dos três poderes no âmbito municipal, são arbitrários, corruptos e omissos. Mas
a crítica que o autor repassa é clara, a de que a população, por ter adquirido
a cultura de não buscar conhecimento através de livros/ estudos, aceita o que lhe
é dado, sem questionamentos.
Essa
obra foge do convencional, em dois sentidos: 1º) a maneira com que o autor
redigiu essa obra foi inovadora, pelo menos para mim, que li pela primeira vez
diálogos imersivos, sem me preocupar com as regras cultas da língua portuguesa, mas escrevendo da
maneira que o personagem falava/pensava. Definitivamente, um estilo de escrita
simples, porém inclusivo e inovador. Comprovando assim, a habilidade de transferência
de informações através das palavras. Uma inspiração. 2º) esse é um livro que
deve ser saboreado capítulo por capítulo, pois, na minha opinião, não têm
grandes desfechos. Mas isso deve ser coisa minha, até porque sou alguém que
gosta de finais felizes e pontas bem amarradas a todo instante, mas a vida não é bem assim.
Por
fim, esse será
um livro que ficará guardado em minha memória, pois tive com ele uma relação de
amor e ódio, porém, mais amor que ódio. Selecionei dois pequenos trechos que me inspiraram sobremaneira. Segue:
“... Agora que escrevo sou aquele
adolescente, meio perdido numa tempestade escura, e que precisava acreditar em
alguém. Minha crença se inclinou toda para d. Manuela, aquela senhora quase corcunda,
meio esquecida de todos, mas que cuidava dos livros como quem despende o amor
por alma rara de brilho intenso e eterno.”
....
“...Parece que d. Manuela teve a mesma
sensação, porque baixou a cabeça e demonstrou em rugas uma tristeza nunca vista
por mim. Levantou-se, tirou o livro da estante e disse que a gente devia continuar
a leitura; eu penso, a leitura é um rio sem margens e de correnteza infinita.
Lemos.”
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Essa
resenha foi mais uma parceria junto à Editora Penalux.
É sempre
um prazer e uma honra receber obras tão nobres.
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